quinta-feira, 6 de maio de 2010

Aos amigos

Os amigos entrariam por uma casa
em chamas para nos salvarem
Mentem por nós à nossa própria mãe
Sabem de nós mais do que somos
capazes de lhes dizer
Jurariam que à hora do crime
estávamos a tomar chá com eles
Mesmo que a polícia nos encontrasse
com as mãos cheias de sangue:
- São rosas, senhores!
Andei com ela toda a tarde a cortar
rosas, senhores.
Sangue de espinhos, senhores!
Eles exigem-nos coisas de nada
As nossas lágrimas
O nosso lenço de assoar
A pele dos nossos inimigos
As batatas fritas do nosso bife
A nossa melhor roupa por uma noite
Exigem-nos tudo o que nos dão
É preciso regá-los regularmente
É nos ombros deles que cai toda
a água dos nossos olhos
Eles espevitam-nos o sentido de humor
quando menos nos apetece
E depois ficam conosco quando as
luzes se apagam e toda a gente se foi
embora...
Só aos amigos é dado o espectáculo
da nossa miséria.
[Inês Pedrosa]

2 comentários:

  1. "Só aos amigos é dado o espetáculo de nossa miséria".

    é.

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  2. Em alguns momentos, admito: "E QUE MISÉRIA"!
    Mas exatamente por serem os únicos que "prestigiam" esse espetáculo, por vezes, nos conhecem melhor do que nós mesmos.

    Triste a pessoa que não tem um amigo verdadeiro, que não confia nesses que são capazes de tudo por nós!

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